Jogador de ataque, negro, de origem humilde e que despontou muito jovem, chamando a atenção do mundo inteiro com nem 15 anos completos. De tanto talento, o gigante Real Madrid não perdeu tempo e comprou por dezenas de milhões de Euros o passe do garoto, mesmo sabendo que ele chegará na Espanha apenas ao completar 18 anos. Poderia ser a história de Endrick, uma das maiores jóias da história do Palmeiras. Mas também poderia ser Vinícius Jr., que saiu do Flamengo em condições bem parecidas.
A coluna poderia ser para falar do que ambos têm em comum: um extraordinário talento e um potencial enorme. Poderia também ser sobre a diferença entre eles: Endrick sabe ter mais presença na área, tem mais cacoetes de finalização e um porte físico chamativo para sua idade. Já Vinícius Jr. inferniza a zaga adversária por sua agilidade, capacidade de dribles curtos e, claro, sua velocidade. Mas não é sobre nenhuma das duas coisas, infelizmente.
O racismo ainda é uma batalha em pleno 2023
Enquanto Endrick está por aqui já programando sua chegada ao Real Madrid, Vini Jr. está diante de uma das batalhas mais difíceis e injustas que um trabalhador (seja um jogador rico ou não) imigrante pode enfrentar: o racismo e a descriminação. Se há anos já vemos indícios de um comportamento preconceituoso nos estádios espanhóis, na última semana vimos o ápice do absurdo, com todo o Mestella (estádio do Valencia) gritando “Mono”, “macaco” em espanhol, para Vini.
A Espanha é um país extremamente conservador em muitos aspectos. Em questão raciais ou religiosas, impressiona ao resto do mundo o quanto o povo espanhol tem dificuldades de lidar com as diferenças, normalmente apelando justamente para o racismo e a xenofobia. Nos estádios, onde muitos acham que tem passe livre para gritar o que quer, a situação piora. E quando se trata de um jovem, negro, vindo da América do Sul, aí sim vemos o pior lado do povo espanhol.
Espanha é pouco efetiva com o combate ao preconceito, mas Vinícius Jr. segue forte no Real
Vinícius Jr. foi muito forte e resiliente. Muito mesmo, até mais do que “deveria”. Até porque ninguém, não importa o salário, deve ser obrigado a escutar insultos raciais enquanto trabalha. Seja de uma ou de 40 mil pessoas. Seja no estádio, nos jornais, nos grafites das cidades ou na relação com jogadores de outros times. A valentia de Vini foi fundamental para chamar atenção do mundo ao racismo escancarado da La Liga. Mas também fez com que os racistas do país, encurralados com a situação, se sentissem mais raivosos e “inconformados”. Um exemplo é o próprio dirigente da Liga, Javier Tebas, que mais se preocupa em discutir com Vinícius Jr. que consertar seu campeonato.
Muitos jornalistas e torcedores teorizaram que Vini estaria de saída da Espanha, justamente pelo absurdo número de casos de violência psicológica e racial. Ainda assim, Fabrizio Romano, maior jornalista esportivo do mundo, afirmou que o jovem brasileiro se sentiu acolhido pelo elenco e pelo clube e por isso não pensa em deixar o Real tão cedo, para azar dos racistas, que ainda o verão empilhando mais taças junto à Endrick.
As medidas adotadas pela Federação Espanhola para combate ao preconceito se tornaram piada pela falta de rigidez. A punição ao Valencia foi considerada extremamente branda, com apenas um setor do estádio fechado por 5 jogos, sendo que o Tribunal Esportivo Espanhol já diminuiu para 3.
Endrick terá que ser forte. Mas ele é obrigado à isso?
Endrick, por mais que doa dizer, vai lidar com situações parecidas. A Espanha não vai evoluir magicamente nos próximos dois anos e a tendência é que o racismo não vá sair dos estádios de lá assim tão facilmente. Meses atrás, ao ser anunciado pelo Real Madrid, um tweet antigo de Endrick elogiando Messi já foi motivo para uma enxurrada de comentários racistas em resposta. Porque sim: o racismo pertence à praticamente todo povo espanhol, onde se inclui o torcedor do próprio Real Madrid. Porque até Vinícius Jr, quando chegou e ainda não havia amadurecido como jogador, era alvo da própria torcida.
A jóia palmeirense já demonstrou ser forte psicologicamente. Calou os críticos que lhe culpavam por uma “seca” com logo dois gols nas finais do Paulistão. Soube ouvir críticas e, com trabalho duro, ir provando o contrário. Mas talvez a maior (e mais desumana) batalha que a jóia palmeirense irá enfrentar seja o povo espanhol. E não há demérito algum, pelo contrário, caso Endrick ou Vini cheguem à seguinte conclusão: “não sou obrigado à lidar com isso, estou indo para outro país“.
Só podemos desejar que evoluam socialmente por lá, seja nos estádios, na mídia ou no cotidiano. Por eles, que seja pelo bem do futebol espanhol, que só ganha com a presença de tantos craques negros. Mas pelo mundo, que seja pelo espírito de empatia, respeito e solidariedade.
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